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terça-feira, agosto 29, 2006

O VALOR DA EDUCAÇÃO

EDUCACÍON

Acabei de ler um post no blog da minha querida amiga Bárbara, que desencadeou um assunto polêmico, mas que me é interessante, sobretudo pelo meu papel de docente: as recentes mudanças na nossa estrutura educacional. O fato é que, com o advento de novas faculdades, curso superior tem cada vez mais cruzado a fronteira da educação para o comércio.
Em se tratando de objetivos, é uma grande verdade que os empregos disponíveis aos profissionais de nível superior estão cada vez mais disputados. E o salário médio absoluto, mais baixo. Mas devemos levar em conta que o número de profissionais formados está aumentando gradativamente. Com o advento de novas faculdades - a chamada porteira aberta, por alguns críticos mais venenosos - este número de profissionais de nível superior tende a aumentar explosivamente. O resultado disto a gente vê por aí.
Mas eu gostaria de trazer aqui duas considerações importantes sobre este assunto, uma negativa e outra positiva: a primeira delas é que, no meu entender, o maior culpado da concorrência de mercado de trabalho somos nós mesmos, profissionais de nível superior. A questão é que impregnamos muito a cultura do "trabalhador assalariado" nas nossas cabeças, ao mesmo tempo que os terrores da vida empreendedora e as suas inseguranças nos tem posto à distância.
A grande verdade é que, falando em termos macroeconômicos, não há como se esperar um crescimento econômico significativo - que de volta significaria melhores empregos, salários e qualidade de vida para todos, principalmente ao profissional de nível superior - sem se pensar em empreendedores. Até porque, quem de fato estimula a economia a crescer é a produção, e produção sugere, de cara, empreendedorismo. E aí, vem o velho ciclo-vicioso do não-desenvolvimento novamente.
Um outro ponto que vejo na conjuntura - este, porém, positivo - é que esta indústria de formação de profissionais de nível superior, como chamada por uns, e que eventualmente pode vir a formar diplomados de qualidade profissional duvidosa, como alertado por outros, ainda se reflete num estado que, em geral, é bom para a nossa sociedade.
O que não se leva em conta é que, por pior que seja uma faculdade, por pior que seja seu programa de curso, ou por pior ainda que seja a qualidade do seu ensino, o profissional por ela formado ainda será, tecnicamente e intelectualmente, mais bem qualificado do que se por ela não tivesse passado. Educação é um recurso nobre. E por menor ela seja, nunca será pior do que a sua ausência.
Mas educação, em sua suma qualidade, é acima de tudo função dos valores que estão impregnados na moral de cada um. É uma conjuntura composta principalmente por força de vontade, em trazer a cultura e os seus valores para dentro da sua própria realidade. E a própria Bárbara, autora do post que desencadeou este assunto, é uma prova humana disto.
Com a licença que sei que ela me daria pra falar, é muito difícil pra qualquer um que venha a conhecer Bárbara e à sua visão de mundo, sua amplitude e pluralidade de conhecimento, e à sua segurança no que afirma, acreditar que ela não possui formação. Aliás, muita gente formada - faço grande questão de ressaltar isto - seria muito mais feliz se tivesse ao menos um terço da cultura dela.

domingo, agosto 27, 2006

16 QUADRAS

CINE

Originalmente chamado 16 Blocks, é um bom filme policial de 2006, dirigido por Richard Donner, e envolvendo Bruce Willis e Mos Def. É, essenciamente, um filme de ação, mas nem por isso ele perdeu conteúdo.
O roteiro é inteligente e bastante mutante. Transcorre de um policial imputado a levar um prisioneiro que precisa fazer um depoimento para uma ação pública contra policiais corruptos. Neste caminho o depoente sofre tentativas de assassinato. Praticamente toda a estória se dá no intervalo de tempo de 112 minutos, e no espaço de 16 quadras que separam a prisão do tribunal.
Em termos do que se pode extrair de valores do filme, 16 Quadras traz resultados magníficos. Ele consegue - mesmo sendo um filme policial com Bruce Willis - ser capaz de resgatar valores morais, usando uma típica linguagem dos nossos anos atuais. E ainda sem parecer xarope.
Frase: "As pessoas mudam".

TESS - UMA LIÇÃO DE VIDA

CINE

Dirigido por Roman Polanski, é um bom drama, de 1979, com Nastassja Kinski. O filme foi adaptado do livro Tess of The d'Ubervilles, escrito por Thomas Hardy, em 1891. Trata-se da estória de uma pobre camponesa que descobrira descender de uma família nobre inglesa, e que, na tentativa de resgatar a sua nobreza, se submete a infelizes episódios. A estória também se dá ao final do século XIX.

Em princípio tinha achado o filme chato e demasiado longo, pelo menos nos seus dois primeiros terços. O diretor explora demais o uso de cenas cotidianas. Porém, o filme traz uma certa guinada ao seus momentos finais, que o tornam significativamente interessante, e é claro, menos trivial.

A grande exploração de cenas cotidianas até tem seu lado positivo, pois retrata com bastante detalhe a vida e a cultura da ocasião. Outro mérito do filme é o seu figurino. Jamais vi um filme de época ilustrar um figurino com tamanha perfeição, onde até mesmo a descostura das roupas é realçada com realismo.

A estória, em geral, é triste. E a lição trazida no filme - com ironia ao título da versão traduzida para o português - não é lá muito interessante. Com o perdão dos leitores, o que se dá pra extrair da película é que Pobre tem mais é que se f****.

Frase: "Você não é a mesma pessoa com quem me casei."

O GOLPE PERFEITO

CINE

Há dois anos atrás, assisti a este filme, seduzido pela idéia de trama, planos e golpes envolvendo um grupo de caloteiros de alto nível. Seduzido também, é claro, pela linda e queridinha Rachel Weisz. O Golpe Perfeito, de 2003 (Confidence, o título original) é dirigido por James Foley.

Na ocasião, para ser bem sincero, não gostei do filme. Achei o enredo muito bem bolado, porém um pouco confuso no desenrolar da trama. Não gostei muito do estilo do diretor, tanto dentro do filme quanto fora dele. Assisti ao making off, e tive a impressão ruim dele ser aquele tipo que acha tudo maravilhoso demais.

Pois então, depois que ouvi bons comentários sobre o filme, comecei a desconfiar que o problema podia estar em mim. Então, aluguei-o para assistir novamente, e minhas conclusões se rebuscaram um pouco mais. O filme, porém, ainda não me convenceu.

O gênero, envolvendo manipulação e tramas, é dos meus prediletos. O elenco - com Edward Burns, Rachel Weisz, Dustin Hoffman e Andy Garcia - é de primeira linha. O roteiro, como eu já havia mencionado antes, parece brilhante, e o desfecho é genial. Mas algo na construção do filme deixa a desejar. As cenas parecem apressadas demais para o conteúdo. O diretor não explora muito os cenários, e ao contrário, sobrecarrega os diálogos.
Um outro aspecto que considero importante, é que um filme tem uma certa obrigação de trazer lições e valores morais ao seu expectador, o que não foi bem o caso. O Golpe Perfeito parece trazer um certo vazio cultural, e alguma distorção de valores. Não há muita coisa a se aprender com ele, senão a extorquir.
Frase: "Você é um bom golpista, por isso não dá para saber quando está falando a verdade ou não."

segunda-feira, agosto 21, 2006

YNGWIE MALMSTEEN

MÚSICA


imagem: http://daffodil.weblogs.us

Malmsteen é um guitarrista bastante controverso. É de extremos: ao mesmo tempo em que lidera uma legião de fãs inveterados pelo mundo - em sua grande maioria, guitarristas iniciantes e apaixonados pelo virtuosismo - faz jorrar ódio e rancor pelo canto da boca de outros, guitarristas ou não, mas fãs da simplicidade e do feeling.
Yngwie Johann Malmsteen nasceu na Suécia, em 1963. Ao que se conta, seu desempenho na escola não era dos melhores - o que o fez trocar os estudos pela vida de luthier. Na sua época, era mais um fã de Jimmy Hendrix.
Os caracteres que imprimem sua autoria nas músicas são um grande virtuosismo - excessivo e exibicionista, eu diria - e o pioneirismo na tendência à música clássica usando a guitarra elétrica e distorcida. Sua agilidade é recorrentemente comparada à do guitarrista Michael Angelo.
O que talvez tenha inicialmente popularizado Malmsteen foi o que hoje é conhecido como Classic Rock ou Classic Metal. Isto inclui o uso constante de escalas menores harmônicas, arpeggios, e também uma técnica popularmente conhecida como pedal point - um tipo de articulação binária onde uma nota fixa é repetida nas pares enquanto as ímpares expressam a melodia da composição. Em geral, este tipo de execução remete à música de Bach e à de Mozart.
Há alguns meses eu cometi o engano de entrar para uma comunidade chamada "Eu odeio Malmsteen". Depois de algumas semanas, porém, percebi que estava sendo injusto e desonesto. Voltei atrás, até porque o grande defeito de YJM é o de fazer dos solos de suas músicas - inclusive os das mais lentas - um grande e exaustivo liquidificador ligado em velocidade turbo.
Eu não odeio Malmsteen. Suas composições não são ruins, exceto os solos. E ele não é, ao menos em natureza, um guitarrista sem feeling, e digno de ser excumungado. Simplesmente ele usa as suas próprias músicas pra fazer negócios, da mesma maneira que grandes diretores de cinema se vendem ao clichê sexo, violência e pouco conteúdo.
Até porque, se Malmsteen substitituísse o seu soberbo virtuosismo - que tanto encanta aos guitarristas amadores - por um feeling bem dosado, à la Eric Clapton ou Dave Gilmour, ele correria o risco de perder boa parte dos seus fãs.

segunda-feira, agosto 14, 2006

O MUNDO DÁ VOLTAS

ECHOS Y ACONTECIMIENTOS

Levei algum tempo para decidir se este post entraria na seção ECHOS Y ACONTECIMIENTOS ou CINE. Por fim, decidi que em breve farei um novo post - este sim como CINE - retratando o mesmo objeto de análise, porém com conhecimento de causa.
Tenho um grande amigo, chamado César Fernando, que conheci quando trabalhei numa emissora de TV. Éramos colegas de trabalho. Cesinha - como é conhecido - sempre foi um cara de idéias marcantes, embora comedido e reservado. Deixava claro que queria ser diretor de cinema, embora trabalhasse na área técnica de televisão, e não na produção. Como trivial na área, cursava engenharia elétrica.
- Quando você fôr fazer seu filme, quem vai fazer a trilha sonora sou eu - Eram os termos que eu usava para brincar com este sujeito.
Pois bem, aí vem o passo dois. Depois que saí do ramo de televisão e radiodifusão, passaram-se alguns anos, e fiquei sabendo por terceiros que:
- Cesinha largou engenharia e foi cursar cinema.
- Corajoso. Mas decidiu fazer o que realmente gosta. - Respondi, na ocasião, com uma certa admiração pela sua perseverança.
Agora quebrando um pouco a sequência da análise - e com a ironia no termo, fazendo o meu roteiro para este post - no ano passado, Richard Meyer me convidara para gravar para um curta metragem, cujo áudio ele estava produzindo:
- (...) Negão, nestas cenas eu preciso fazer umas guitarras com slide, e a única pessoa que eu conheço que toca com slide é você.
Aceitei o convite, embora não soubesse exatamente do que se tratava.
Mnemo é o nome do curta. Fiquei sabendo dentro do estúdio, já no momento da gravação das guitarras. O termo vem do grego, e quer dizer memória. Me informei por alto sobre o roteiro, mas ainda assim não tinha idéia de a quem pertencia o filme em que eu ora trabalhava.
Daí, passaram-se algumas semanas, e de repente eu recebo uma mensagem de César via MSN:
- Velho, valeu viu! Ficou massa. Sua cópia já já fica pronta.
Para bom entendedor, meia palavra basta. Ou melhor, meia sentença:
- Puta que pariu... Só não me diga que Mnemo é seu!
- É sim. Hehehehe... - responde ele, com um certo ar de conspiração, muito embora só viesse a saber que fui eu depois de receber o nome para incluir nos créditos.
Pois bem. Como eu tinha dito, o mundo dá voltas. E as profecias se concretizam. Mesmo as mais inocentes.
Mnemo possui excelente produção técnica. A fotografia retrata isso muito bem. Entretanto, ainda não tive a oportunidade de assistir a ele na íntegra (apenas conheço as cenas para as quais gravei). Mais informações aqui.

domingo, agosto 13, 2006

A CASA DOS ESPÍRITOS

CINE


Um filme de Billie August, de 1993 (título original: The House of the Spirits). Bastante interessante. Tem cara de era pré-comercial do cinema. Não há muita riqueza em termos de recursos tecnológicos e efeitos especiais, mas o roteiro compensa. E traz mensagens fortes.

Embora a medula espinhal do filme brote em espiritualidade, morte, comunicação com seres do outro lado, vida e amor, A Casa dos Espíritos traz na sua essência uma boa dose de política, relações de trabalho, poder e democracia. O cenário se dá no Chile dos anos 20 até 70, parece.

Um aspecto que me chamou bastante a atenção neste filme é o fato de não existir um mocinho ou um personagem principal muito bem definido - como categorizado no arquétipo cinematográfico pai, filho, espírito santo e demônio - mas sim um conjunto de personagens. O filme cruza algumas gerações de uma mesma família.

Frase: "A vida é um grande milagre."

O JARDINEIRO FIEL

CINE

Lançado em 2005, com o título original The Constant Gardner, é uma excelente obra, baseada no livro de John Le Carré. Quem conhece outros trabalhos de Fernando Meirelles, verá no filme as suas impressões digitais, tal como uso de câmeras livres e de cenas cotidianas com pouca sofisticação. O resultado final é muito bom.
O cenário principal se dá no Quênia. O roteiro é transcorrido com uma ativista humanitária (a lindíssima Rachel Weisz) que casa-se com um diplomata inglês (Raph Fiennes), e viajam para a África, onde ela descobre uma rede de conspiração que usa vidas humanas como cobaias de laboratórios farmacêuticos.
O filme leva a grandes reflexões sobre interesses comerciais versus valores humanistas. Uma reflexão importante é o quanto a falta de conhecimento de um povo, aliada à carência de suas necessidades básicas, leva-o ao domínio ideológico de políticos e corporações. É algo que - em grau ligeiramente menor, digamos - estamos acostumados a ver nas classes sociais mais baixas do nosso país.
Frase: "Sim ou não?"

O OPERÁRIO

CINE

Um filme depressivo, com uma tendência a horror. De Brad Anderson (The Machinist, 2004), não chega a ser um filme ruim. Mas não recomendo para a hora do jantar. Fotografia mórbida, quase preto-e-branco.
Conta a estória de um operário (um bom trabalho de Christian Bale) que, por razões desconhecidas até o momento final do filme, não dorme há um ano. E isto tem causado uma série de problemas na sua vida, como perda excessiva de peso, paranóias e confusões dentro da sua cabeça. Com pouca vida social, este operário é um homem de poucas alegrias. Uma delas é uma adorável prostituta (Jennifer Jason Leigh) com quem se encontra com frequência.
O roteiro se constrói usando a receita certa, porém comum, para filmes de suspense cujo esclarecimento só se dá nos últimos momentos. Embora eu particularmente não tenha me agradado muito do seu final, na maior parte do tempo as cenas são não deixam claro se os acontecimentos são reais ou se apenas existem na cabeça do personagem.
Frase: "Eu sei quem você é."

A VIDA DE DAVID GALE

CINE

Um filme fantástico, de Alan Parker (The life of David Gale, 2003), e roteiro de Charles Randolph. Na verdade eu estava em busca de Arte, Amor e Ilusão (The Shape of Things), com minha querida Rachel Weisz. Não encontrei, e recebi esta pérola como indicação do especialista da locadora.
A temática do filme é bastante objetiva: pena de morte. Mas o roteiro, não. Trata-se da estória de um brilhante professor de filosofia (Kevin Spacey), ativista de um grupo contra a pena de morte. Mas ironicamente, ele foi condenado à morte por estupro e assasinato, e aguarda 4 dias para a sua execução.
Gale decide convidar uma influente repórter (Kate Winslet) para contar o que seria a verdadeira estória que envolve o crime pelo qual foi condenado. Uma estória surpreendente, e que se constrói aos poucos, um conta-gotas, com um quebra-cabeças repleto de peças-chave. Enfim, um filme fantástico.

Frase: "Você não está aqui para salvar a minha vida, mas sim a minha memória."

quinta-feira, agosto 10, 2006

BLOCOS DE CARNAVAL

SOCIEDAD

Há algumas décadas atrás eles não existiam. As pessoas brincavam na rua, atrás do trio elétrico, sem se preocuparem com a violência que, ao que se conta, não existia no carnaval de Salvador.
Para muitos carnaturistas (aquele tipo de turista que vem aqui somente nesta época do ano), o o Carnaval de Salvador é uma grande festa do acasalamento. E o bloco para ele é a circunferência que delimita o escopo de seu impacto hormonal. O que, convenhamos, visto sob essa ótica, não chega a ser de todo ruim. A coisa tá tão bem valorizada no mercado que tem gente que divide o abadá em até 12 vezes com juros.
Mas um aspecto interessante do bloco de carnaval é que ele retrata, com uma estúpida fidelidade, a organização e as divisões socio-econômicas da nossa sociedade. Em relação a ele, são encontradas basicamente três classes diferentes:

1. A elite, que possui dinheiro suficiente para comprar os abadás e poderem se divertir com a tranquilidade de quem reside uma fortaleza com muralhas altas. A elite privatiza a área, digamos assim, nobre em relação ao trio, e fica separada das massas populares por meio do cordão;
2. A pipoca, termo técnico usado para definir a multidão popular pulante, normalmente composta por pessoas que compõem as camadas mais baixas da pirâmide socio-econômico-cultural. Estatistamente a pipoca detêm índices quase absolutos de violência, e fica separada dos blocos por meio dos cordões.
3. Este é o mais interessante de todos: o cordão. Trata-se de uma corda grande, circular, com início atado ao final, e comprido o suficiente para caber, com mínima folga, um trio elétrico, um carro de apoio, e uma quantidade devidamente provisionada de foliões em estado de entropia.

Esta corda fica preenchida, em toda a sua extensão, pelos chamados cordeiros - que são essencialmente pessoas das camadas mais baixas da sociedade. Estas pessoas se predispõem a ganhar uma quantidade ínfima de dinheiro para trabalhar como "muralha humana" - e aí é que vem a parte interessante da estória - separando o povo da sua própria classe de origem da elite a quem eles devem honrar o seus mínimos e generosos proventos.

Será que esta hierarquia, e sobretudo este último papel, lembram alguém ou alguma coisa na nossa sociedade?

AMADEUS

CINE
O filme "Amadeus", da direção de Milos Forman, 1984 (adaptado da peça teatral de Peter Shaffer, com mesmo nome), é uma obra histórica, atemporal, e digna de cada premiação que recebeu na ocasião. Resumidamente, é um filme perfeito.
Não supervalorizo Amadeus por ele tratar de música - obviamente a arte que mais aprecio dentre todas - e nem apenas por ele retratar uma alternativa bastante verossímil da vida de Wolfgang Amadeus Mozart. Mas, principalmente pela qualidade e pelo detalhismo da obra enquanto cinema.
Amadeus foi gravado em Praga, em 1983. Como não podia deixar de ser, toda a trilha sonora é da obra de Mozart. É digno de se assistir ao making off, que por sua vez, é rico em informações bastante esclarecedoras. Um destes detalhes é que Tom Hulce não sabia tocar absolutamente nada de piano.
Hulce levou 4 meses ensaiando as passagens de piano que viria a encenar. Ora, quem é músico e conhece um pouco do teclado do piano, basta assistir a estas cenas para ficar impressionado. A execução do ator é sempre explícita e fidedigna. Até mesmo as cenas em que toca piano deitado, de costas, e com os braços invertidos.
Frases: "Gracias, Signori!"
"Eu sou um homem vulgar, mas minha música não é."

domingo, agosto 06, 2006

DONA EDITH LEITE

LA GARANTÍA SOY YO

Venho há alguns dias tentando inscrever a Sra. Edith Leite de Oliveira no Guinness Book. Entrei no site, li todos os termos e FAQ's, preenchi todo o cadastro, enfim, resolvi toda a burocracia eletrônica que era requerida. A categoria "maior tempo de experiência em bandolim" não existe, o que a colocaria numa situação mais confortável, com seus relevantes 83 anos de experiência.
Para quem não conhece Dona Edith, ela é bandolinista. Nasceu em setembro de 1915, na cidade de Senhor do Bonfim - Bahia. Começou a aprender o instrumento em dezembro de 1922, com uma professora de artes contratada pelo seu pai. Até onde eu saiba, não possui habilidades de leitura musical ou conceitos teóricos. Mas possui um ouvido louvável, sendo capaz de executar de imediato qualquer melodia que lhe for exibida. E assim continua até hoje.
Pela influência dela aprendi música, também empiricamente. Foi na casa dela que, aos meus aproximados 7 anos de idade - mera coincidência - executei minhas primeiras notas num pequeno órgão de gaitas que ali pairava junto com outros instrumentos, como um violão, uma mini-harpa e um violino. É consequência dela, também, o pouco de bandolim que aprendi a tocar - além da guitarra e do teclado.
Pois bem, voltando à inscrição. Vem a segunda parte da burocracia: tenho que enviar um fax para a Bélgica, contendo todo um documento de protocolo com 25 páginas (não excluíveis, segundo os termos do concurso), anexando cópia dos documentos pessoais, e é claro, evidências.
Ora, como vou ter evidências de que, naquele natal sem neve de 1922, em plena fazenda de meu bisavô, minha avó paterna começara a dar as suas primeiras notas no bandolim? Que provas de talento, bom ouvido e apreço pela música datariam de dezembro de 1922 e resistiriam até hoje? Vídeos??? Fotografias? Ou quem sabe um laudo técnico pericial, escrito e assinado por Heitor Villa Lobos, e corroborado por duas testemunhas? Sugestões são muito bem vindas.
Bom, segundo minha tia - a primeira de suas filhas mulheres - depoimentos de testemunhas só seriam possíveis por meio de sessão espírita.

sexta-feira, agosto 04, 2006

DEZ RAZÕES PARA NÃO ASSISTIR A FILMES DUBLADOS

CINE

Os problemas das dublagens:
I. Alteram as características originais da sonoplastia. O filme é uma arte, e como tal, é íntegro. Não deve ser mutilado.
II. Fazem o filme perder a seriedade. As nossas dublagens são tão esquisitas que conseguem fazer um filme trágico parecer cômico. E vice-versa.
III. Destroem a fidedignidade nos diálogos. Frases muito longas para poucos movimentos de boca, ou o contrário. Algo que só fica interessante quando Fucker contracena com Sucker.
IV. Destroem a expressão dos atores. A expressão de um ator também se traduz pela sua voz. A dublagem é quase tão eficaz no quesito expressão quanto locutora de aeroporto.
V. Destroem o som de segundo plano. Para fazer a dublagem, o estúdio precisa estrangular o áudio do trecho falado, porque senão vão sair as duas vozes ao mesmo tempo: a do ator, na língua original, e a do tradutor, na nossa.
VI. Retiram do expectador a oportunidade de aprender outros idiomas. Pois é, tá aí uma excelente ingrish cursi, di grátis.
VII. Dificilmente é usado um locutor adequado para a voz do ator. E aí, fica a disparidade. Principalmente para quem já conhece e está habituado com o ator.
VIII. Enchem o saco com as mesmas vozes em quase todos os filmes. A impressão que dá é que tem muito pouca gente trabalhando neste ramo.
IX. Modificam os textos originais. Este é o pior de todos. Acredito que algum tipo de acordo com a TV Povão (Rede Globo & cia.) faz com que os textos sejam modificados, obviamente para pior. Parece que a idéia de tamanho sacrilégio, é fazer com que os diálogos ou piadas mais inteligentes sejam compreendidos pelas massas. Ou melhor, transformado em algo que eles entendam.
X. Distorcem as mensagens trazidas no filme. Como modificam os textos, os filmes perdem muito da sua essência. E da graça também.

LÓGICA PARCIAL

COMPORTAMIENTO HUMANO

Há algum tempo atrás, mencionei o quanto as pessoas tomam posições e atitudes, perante as outras, em função de seu grau de simpatia. É bastante comum cometermos julgamentos arbitrários, onde questões pessoais prevalescem em detrimento da objetividade, da razão e do bom senso.
Na verdade, há uma teoria ainda mais radical neste sentido. Proponho aqui que a tendência natural é que praticamente todas as ações tomadas por todas as pessoas, quando envolvendo outras, em maior ou em menor grau, acabam por levar em conta o julgamento pessoal. Estes fenômenos acontecem tanto consciente quanto inconscientemente. E eles são muitas vezes imperceptíveis até mesmo para quem vê a olho nú, pelo lado de fora.
Reflita bem e verá que uma evidência desta espécie de subjetividade é que o nosso senso de julgamento não está tão fundamentado em implicações lógicas quanto se pensa. Intuitivamente, buscamos julgar o “correto” ou o “errado”, bem como o “pior” ou o “melhor”, baseados muito mais na sensação de estar correto, errado, pior ou melhor – que é imediata – do que de uma conclusão lógica – que requer uma bateria de testes de implicação. E "sensações" são bastante subjetivas. Em se tratando de julgar outras pessoas, então...
Picuinhas ou favorecimentos estão embutidos na maioria de nossas atitudes, por mais formais e objetivas que estas sejam. Tanto nos itens mais subjetivos como no julgamento estético, quanto em momentos formais, como contratação de funcionários, avaliação de competições, compras de fornecedores, o favoritismo está muito presente. Até mesmo avaliações “objetivas” não estão de todo imunes dos laços de simpatia.
Usar parâmetros impessoais como medidas não eliminam o problema como um todo. Se Zidani é amigo, e pode ser contratado, muda-se os critérios de avaliação destas métricas antes de submetê-lo ao exame. Ou anula-se outros depois. Se Materazzi é inimigo e não deve ir na viagem, as restrições para a viagem começam daquelas nas quais ele não as satisfaz.
Uma vez a ação tomada, os argumentos começam a surgir em função das conclusões, ao invés do contrário, como preza a boa lógica da razão. E as pessoas, para não parecerem injustas, preconceituosas ou antipáticas, antecipam as justificativas:
"Olha só... não quero que fique parecendo que tenho motivos pessoais não, mas é porque (...)".

FRASE INTERESSANTE

FRASES

"A vida é um jogo, de diferentes jogadores. Uns jogam bem, outros não tão bem, e outros sequer sabem que estão jogando". (Antoniel Barros, pensador contemporâneo)

quarta-feira, agosto 02, 2006

O JÚRI

CINE

Não foi a primeira vez que assisti a "O Júri", de 2003, escrito por John Grisham e dirigido por Gary Fleder ("Runaway Jury", no seu título original). E também não foi sem motivos.

Assim como o filme descrito meu último post, é mais um roteiro sobre relações humanas. Nesta obra de cenas velozes e entrelaçadas - coincidência ou não, com John Cusack - também se abordam manipulação, ambição e corrupção, onde há um destaque especial para o poder de influência e a habilidade em reagir a mudanças rápidas. Porém, o que não havia de sensacional no filme anterior, neste há.

Muito embora a minha simpatia pelo gênero não ser novidade, existem outros fatores a serem relevados. A obra também parece se preocupar em preservar elementos do bom cinema, tais como a riqueza de detalhes importantes embutidos no cenário, na temporalidade e na causalidade.

Frase interessante: "O dinheiro muda as pessoas".