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domingo, setembro 24, 2006

ARTE, AMOR E ILUSÃO

CINE

Um filme de Neil Labute, de 2003, com Rachel Weisz e Paul Rudd (The Shape of Things, no título original). Uma produção restrita, e não muito divulgada. Nem todos os cinéfilos o conhecem. Para se ter idéia, deu um certo trabalho pra conseguir encontrá-lo nas locadoras daqui de Salvador.

Um filme genial, sobre sedução e manipulação. É genial porque todo ele – roteiro, sinopse, arte da capa, tudo – foi tramado para iludir o espectador até os seus minutos finais, fazendo-se passar por um filme romântico comum. Até a locadora caiu no conto do vigário, pois a única cópia que eles tinham estava perdida na sessão de comédia romântica.

A história inicia com uma estudante de artes (Rachel Weisz) que conhece um funcionário de um museu (Paul Rudd), de onde se desencadeia um romance. A estória também envolve um outro casal de amigos deste rapaz, cujos envolvimentos eventualmente se cruzam entre os casais.

O filme, volta e meia, está tocando nos pontos de vista do artista. Como parece ser do apreço deste diretor, ele mostra até onde é capaz de chegar um ser humano a fim de se fazer realizar a sua arte. E mostra o quanto o sentimentos humanos podem ser descartados em prol de excentricidade.

Frase: “Moralistas não têm espaço na arte”.

CLUBE DA LUTA

CINE

De David Fincher, lançado em 1999 (Fight Club, no idioma original), é um bom suspense, com Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter. O roteiro surpreende, engana muito. Por isso é fundamental que se preste atenção a todos os detalhes do filme. O que não parecer, a princípio, ter muita importância, no final terá.
Em alguns aspectos ele me lembrou O Operário, de Brad Anderson, nos aspectos do real versus imaginário. Mas a estória gira em torno de um investigador de seguros insone, um vendedor de sabonetes, e uma mulher excêntrica. Os três buscam, de alguma maneira, meios de entender as próprias emoções. Os dois primeiros, ao descobrirem que lutar é uma excelente terapia de vida, fundam uma facção de fanáticos com este propósito, e que em grande velocidade se expande pelo país.

É um filme muito, mas muito rico. Rico de mensagens subliminares, de questionamentos sobre os sentimentos e instintos humanos, rico de arte e fotografia (preste bem atenção a este detalhe), de roteiro, e de originalidade. É, em quase todos os aspectos, um filme bastante incomum.

Clube da Luta traz uma série de reflexões sobre a mente humana e o seu lado obscuro. Ele parece sempre querer focar num misterioso, caótico e inimigo sentimento, que sempre atordoa: o medo. O filme mostra mil e uma maneiras adversas de se entender o próprio medo, e mais mil e uma de como se lidar com ele.

Frase: “Aqui as pessoas realmente lhe ouvem, e não apenas ficam esperando a sua hora de falar”

CRASH - NO LIMITE

CINE
Crash é uma produção de Paul Haggis, publicada em 2004. O filme trata basicamente de duas coisas: discriminação étnica e racial, e preconceito. Segundo a sinopse, a idéia de Haggis é mostrar uma atual conjuntura de intolerância acometida na sociedade norte-americana, intensificada em conseqüência dos conflitos do 11 de setembro.
A estória transcorrida não segue a linha convencional, e por isso não envolve um personagem principal. Envolve um conjunto de estórias de pessoas e famílias diferentes que eventualmente se cruzam. E, recheando os atos destes personagens, está sempre a intolerância.
Por um lado, o filme retrata algumas facetas do racismo que costumam ficar implícitas nas diferentes posições da sociedade, e o abuso de poderes neste sentido por algumas destas pessoas. Por outro lado, ele procura mostrar o quanto de preconceito e discriminações estas posições são capazes de abrigar, e o quanto esta sociedade paga com isso.
Um detalhe importante é que este é o primeiro filme que assisti, até hoje, sem uma única palavra em português, nem em diálogo e nem na legenda. O objetivo disto foi tentar ir migrando de idioma, pouco a pouco, a num futuro conseguir assistir a filmes de língua inglesa sem nenhuma legenda.
O resultado desta artimanha – manter tanto o idioma quanto a legenda em inglês – totalmente ao contrário do que eu imaginava, foi muito bom. Além de, em poucas vezes se precisar apelar para o “volta-e-repete”, e ainda assim conseguir entender suficientemente bem os diálogos, estes últimos começaram – pela primeira vez num filme internacional – a aparecer de fato na cena, vívidos, de uma maneira quase tão clara quanto de um filme nacional.
O preço pago para focar, ler e entender uma legenda em português – concluo – é ter que abnegar o diálogo original em som. Até porque, se você é um ser humano normal, na velocidade de um filme comum, ou você presta atenção no diálogo do som, em inglês, ou você presta atenção na legenda.
Pois bem. Se for ligar o subtitle, só não recomendo a tentar fazer traduções em tempo real. É melhor pensar em inglês, mesmo.
Frase: “Você acha que realmente se conhece?”.

sexta-feira, setembro 22, 2006

FALSA DEMOCRACIA

POLÍTICA

Democracia vem do grego demokratía, onde demo = povo e kratía = governo. Um governo controlado pelo povo, por assim dizer. Algo que parece sugerir: “governo a favor da justiça e igualdade para todos”. Um sistema politicamente correto, pelo menos na teoria, que tem a ver com o direito e a representatividade igualitária de todos, no exercício da administração e do controle da sociedade.

Pois bem que esta democracia, no final das contas, não preza pelo bem de todos. Isto porque existe, num processo eleitoral, uma parcela – pequena, mas significativa – de pessoas que são desumanamente exploradas em prol de interesses particulares relacionados ao poder público. E os nossos dignos candidatos – em especial, aqueles mais bem eleitos – são altamente injustiçados neste sentido, uma vez que eles não têm todos os seus direitos assegurados pelas leis vigentes.

Eu explico o porquê. Um exemplo de como a coisa funciona: um determinado político, chamado João da Silva, se candidata a vereador numa grande cidade brasileira como Salvador, cujo complexo eleitoral abriga uma grande parcela de votantes analfabetos ou com ensino fundamental não concluído. Este político está devidamente filiado a um partido imaginário qualquer, que aqui chamaremos de PDNL (Partido da Direita Neo-Liberal).

Este candidato, bem como o seu partido, são implicitamente motivados por uma empresa imaginária – a Rede de Supermercados A-Mais – de que cujos sócios ele pode ser, por exemplo, amigo íntimo, ao ponto de freqüentar a casa e de compartilhar camarões ao molho de gorgonzola e vinho branco. Perceba aí, um sutil início de manipulação por parte destes empresários, para com este justo defensor das causas comuns, onde faz-se valer de soberba e supostos laços pessoais em prol de interesses privilegiados.

Assim, o PDNL irá receber destes empresários um certo apoio moral para dar suporte à campanha de João da Silva. E este apoio moral - uma benevolência de humildes R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) - enganosamente não são declarados nas contas do partido (não é caixa dois, seus maldosos! É apenas um engano). Esta doação tem a intenção de gastos com publicidade e com alguns bondosos brindes – como cestas básicas, telha, cimento e camisetas com as cores da vitória – gentilmente doados aos seus eleitores sem nenhuma segunda intenção.

Daí, por uma questão de pleno exercício da democracia, eis que João da Silva é eleito vereador pelo PDNL.

Bom, como quem dá alguma coisa quer outra em troca – mesmo entre os amigos mais íntimos – não podemos esperar que a Rede A-Mais tenha comprado todos estes eleitores para que João da Silva represente os interesses do povo. Até porque os interesses do povo – quem consome – não necessariamente são os mesmos interesses do supermercado – quem fornece.

Por fim, a idéia é que João da Silva é um preposto empregado, representante dos hipermercados A-Mais na Câmara Municipal. Alguém que estará lá, eleito pelo povo (ou melhor dizendo, por meio do povo), batalhando duramente para representar, por mais que contra os interesses deste mesmo povo, uma causa. E aí, este guerreiro e defensor dos pobres e injustiçados, lá estará, por mais que de uma maneira demagógica e falsária, votando e propondo projetos que, no final das contas, favorecem aos supermecados A-Mais.

Agora pergunto eu: de acordo com a CLT, não se consolidaria, aí, uma relação de trabalho? Não estaria, portanto, o pobre vereador João da Silva sendo explorado por esta empresa, num violento desrespeito às consolidadas leis trabalhistas?

sábado, setembro 16, 2006

ENERGIA NUCLEAR

FÍSICA
Energia nuclear é um grande vilão da história, tanto para uso pacífico quanto obviamente para construção de bombas atômicas. Ativistas pacifistas a condenam fervorosamente. E com razão. Aliás, se mensurarmos os estragos que a humanidade já sofreu por causa deste “filho” de Einstein – desde os ataques de Hiroshima e Nagazaki, até o acidente de Chernobyl - há motivos de sobra.

O que não se conta, entretanto, é que energia nuclear é uma alternativa viável sob muitos pontos de vista, dentre aspectos técnicos, econômicos e – pasme, se quiser - ambientais. E há situações em que é extremamente complicado consumir energia de uma outra matriz que não seja ela. Países da Europa como a França, por exemplo, são vitalmente dependentes da energia nuclear.

Já começa que, ao contrário do que se prega, a energia atômica é bastante limpa. Não que se diga que o subproduto radioativo de usinas deste tipo não seja extremamente danoso para o ambiente se for expurgado nele. Mas sim porque a quantidade deste dejeto é pequena o suficiente para ser muito bem controlada e condicionada, para que tome destinos apropriados.

Há uma outra maneira não menos relevante de justificar o uso de energia atômica. Basta considerar que a quantidade de energia que se consegue explorar da matéria prima nuclear, é algo tão assustadoramente grande, que torna irrisório qualquer combustível sólido, líquido ou gasoso, ou ainda outro meio de extração oriundo de potencial gravitacional, como hidroelétricas, eólicas ou marés. Em suma, a quantidade de energia atômica existente em um mísero quilograma de matéria-prima nuclear, faz virar fichinha toda a energia proveniente de um quilograma de insumo de qualquer uma destas outras fontes.

Com a licença que um não-físico tenha pra falar, existem dois tipos de produção de energia nuclear, que são a fissão e a fusão. Dois métodos opostos, diga-se. Fissão é a quebra do núcleo de um átomo, e fusão é a união de núcleos de dois átomos em um só. Ambos os processos produzem energia. Quantidades absurdamente grandes de energia, aliás.

FISSÃO

Para se fazer fissão, é necessário usar um material de número atômico grande - como o urânio – que, por natureza, já é radioativo. Ser radioativo neste sentido quer dizer que ele tem um núcleo tão denso que suas partículas, vivendo um intenso desamor entre si, são pouco a pouco arremessadas para fora do átomo – e coitado de quem ficar na frente!

Depois de colhido e purificado o urânio, ele passa por um processo de enriquecimento que, ao que parece, faz o átomo ficar mais instável ainda. Sendo assim, ele se torna altamente propenso à ruptura do núcleo. Quando um átomo se rompe, ele arremessa as partículas do seu núcleo para fora, que fatalmente, ao atingir outro átomo vizinho, provoca ruptura neste outro também. O processo se repete, em progressão geométrica, de maneira que, a depender da quantidade, a coisa pode ser explosiva. Assim funciona a nossa inimiga bomba atômica.

Entretanto, como já sugerido, não é qualquer quantidade de urânio junto que o faz explodir. Existe um limite de massa – que os físicos chamam de massa crítica – donde uma quantidade menor que ele faz a reação se apagar ou ficar enfraquecida. De igual maneira, uma quantidade maior do que a massa crítica fará a reação em cadeia ser instantânea e irreversível, na proporção da quantidade de matéria em questão.

Assim, a chamada massa crítica - que deixa o urânio com o tamanho de aproximadamente uma bola de tênis - é calculada e francamente utilizada pelos projetistas de artefatos nucleares, no intuito de deixar o “dedo no gatilho”. O pavil deste troço está na separação entre as duas partes de urânio com quantidade exata de massa crítica, mas dentro de um mesmo invólucro de material imune à reatividade.
Este revestimento - que suponho ser de chumbo ou uma liga com ele - mantém as duas bolas de tênis separadas em dois compartimentos, como se fosse uma casa de dois quartos, ligados por uma porta isolante. Acender o pavil desta bomba consiste em abrir a porta que impede a comunicação entre as duas quantidades de massa crítica, e então, fazê-las, carinhosamente por meio de TNT, encaixarem-se uma na outra. Daí então... Bum! (com onomatopéia e tudo!)

A quantidade de energia que se consegue produzir com este processo é algo estupidamente grande. O grande desafio do seu uso, entretanto, está em se fazer consumir energia atômica por meio de fissão, de uma maneira controlada. Isto porque este sistema é extremamente instável, o que quer dizer que um mero vacilo, mais do que fatal, pode ser altamente desastroso.

Ao que tenho conhecimento, todas as usinas nucleares até hoje existentes - inclusive a de Chernobyl - tem usado fissão nuclear. Mas, antes de atacar o emprego deste tipo de exploração de energia, além de considerar a dependência que o mundo tem dela, não devemos esquecer dois fatores importantes:

O primeiro é que, quando Chernobyl foi construída, o mundo vivia uma era cujos recursos tecnológicos de segurança não chegavam aos pés dos de hoje.

O segundo é que a Rússia, então “potência mundial” que operava esta usina nas décadas passadas, usava determinados processos e critérios que - cuja razão desconheço - eram quase que totalmente diferentes do que o resto do mundo já praticava desde a ocasião para a mesma finalidade.

FUSÃO

O processo de fusão não é tão “prático” quanto o de fissão, mas tem algo de glamouroso. Fusão nuclear consiste em unir dois átomos em um só, num romantismo cujo resultado é uma produção energética tão estupidamente grande, que coloca até mesmo a fissão nuclear no chulé. Tanto o é, que a famosa bomba H - à base de fusão - possuía 750 vezes mais poder do que a primeira bomba de fissão.
Entretanto, para que os átomos possam, em pares, chegar a esse tão desejado estágio de unidade, eles precisam atingir temperaturas da ordem de três milhões de graus celsius. Algo que, no universo, só é comumente encontrada no centro das estrelas, por ação das suas gravidades. O Sol, por exemplo, é uma fonte bastante popular de fusão nuclear, que transforma todos os dias, por meio deste processo, grandes quantidades de hidrogênio (H2) em Hélio (He).

Porém, uma temperatura de tamanha magnitude - um desconfortável e inviável calor, digamos assim – não é nada muito fácil de se conseguir. Pra se ter idéia, o fogão da sua casa, ralando muito, consegue produzir 380 graus, e um maçarico de solda de cobre sequer beira os mil graus. De uma maneira geral, não se imagina produzir tanta temperatura sem que se haja uma fonte muito alta de energia - e brusca, até porque a atmosfera irá absorvê-la com facilidade, atrapalhando as concentrações.

Até já li a respeito de um suposto invento, proposto para disparar o processo de fusão nuclear, concentrando magnetismo num anel através de um toróide. Este elemento, associàdo à chamada física de plasma, seria capaz de produzir esta temperatura. Entretanto, por questões de viabilidade, a melhor forma de se produzir fusão é usando uma bomba de fissão nuclear como “catalisador”. Ou seja, ainda continuamos dependentes da fissão.
Uma outra inestimável vantagem na fusão nuclear, além do seu poder energético, é que, por ser estável, ela NÃO É uma reação em cadeia. Este fato a torna, em tese, uma fonte de energia muito mais segura do que a fissão.


BENEFÍCIOS

Energia nuclear tem uma pá de facetas. Há seu lado do risco, há seu lado utópico (até então), e há seu benefício. Mas de uma maneira geral, há uma viabilidade no seu uso controlado. Tanto há, que muitos governos dos mais heterogêneos países, utilizam este tipo de energia como matriz viável ou até mesmo indispensável.

Nós Brasileiros não precisamos tanto de energia nuclear, porque temos muitos rios para produzir energia, não é verdade? Somos felizes porque a maior parte da energia elétrica que consumimos vem do potencial gravitacional da água dos rios? Sim, somos felizes, na verdade, é porque temos todos estes rios para produzir energia. Nem todos os países têm.

Mas não tenhamos a ilusão de que uma usina hidroelétrica é absolutamente limpa, nobre e inofensiva ao meio ambiente, simplesmente porque usa prefixo “hidro”. Uma vez que rios são cercados por barragens, grandes áreas são inundadas.
Teses de doutorado têm demonstrado que o acúmulo de material orgânico e bactérias nestas represas, decorrente da fauna e flora mortas pela inundação, diminuem o pH da água e produzem metano, tornando-a de difícil sobrevivência para muitas espécies no local. Não bastasse, o impacto ambiental para um empreendimento de tamanha dimensão, atinge espécies animais, vegetais, e até famílias que vivem da caça, pesca e plantio nestas regiões.

Ainda sobre energia nuclear, ao contrário do que os grupos pacifistas do passado hão de imaginar, não existe uma fuga no mundo sobre o consumo deste tipo de energia. As evidências têm provado, ao redor do globo, é que há uma adoção constante dela - ou talvez crescente – na medida em que a demanda de energia elétrica vem aumentando.

Há muitas promessas para uso de energia nuclear, e a sua exploração de maneira segura. Os benefícios seriam grandes. Só para se ter idéia, um carro idealizado, que fosse abastecido com uma pequena cápsula de energia nuclear, teria capacidade de autonomia contínua por mais de trezentos anos sem nenhum tipo de reabastecimento energético.

Já em se tratando de segurança de sistemas instáveis, a evolução da tecnologia é um item que devemos considerar. Aviões, com suas tantas toneladas, são sistemas altamente instáveis enquanto voam. Entretanto, seus recursos de tolerância a falhas são tão robustos que eles estão entre os primeiros das listas dos meios de transporte estatisticamente mais seguros (mesmo com a TAM operando as linhas domésticas do Brasil). Na energia nuclear, não há porque ser ao contrário. Tenho a franca esperança de que, num breve futuro, estaremos explorando-a estavelmente.

Enfim, não podemos descartar definitivamente este tipo de energia pelo simples preconceito, pelo seu mau uso, ou em absoluto pela memória do drástico acidente ocorrido há vinte anos atrás. É importante que busquemos olhar para uma mesma coisa por todos os pontos de vista. Ao contrário, assumimos o prejuízo do radicalismo preconceituoso.
(revisão e colaboração: Wagner Pires)

domingo, setembro 10, 2006

A IMPORTÂNCIA DA DESIGUALDADE

ECONOMÍA

Há alguns anos atrás, ouvi falar que se toda a riqueza do mundo fosse dividida entre cada um de seus habitantes, cada um ficaria com nada menos do que 20 milhões de dólares.

Após retransmitir a mensagem, o mais comum era ouvir:
- 20 milhões de dólares!
- Onde estão os meus 20 milhões de dólares?
- Com 20 milhões de dólares, eu pararia de trabalhar...
- Eu tomaria esse dinheiro todo de cachaça.

Nesse momento é que você para e pensa no quão é importante a desigualdade. Já pensou se fôssemos todos iguais, cada um com seus 20 milhões de dólares? Pra começo de conversa, ninguém vai querer mais ser peão. Ninguém precisa mais trabalhar!

Mas é aí nesse precisar trabalhar onde mora a produtividade, desde os tempos antigos. Se todo mundo fosse igualmente rico, não haveria quem fosse querer construir o castelo do rei, quem fosse parafusar os automóveis da fábrica de Henry Ford, e nem quem fosse querer ralar no sol quente, semeando e colhendo o que os outros é que vão comer. O que aconteceria com a cadeia produtiva?

Um caos. Caos que remete à histórica crise de 1929, que é um fiel retrato do que acontece com uma economia capitalista quando se há uma reclusão na produtividade. Uma reação em cadeia de proporções macroeconômicas. E dizem rumores que, a partir deste ano, muita gente teria descoberto que investir na bolsa de valores era mais negócio do que trabalhar. Uma grande paulada na cabeça na produtividade, que, de consequência, pode causar crises em todos os setores da sociedade, inclusive os mais vitais como o agrícola, o farmacêutico, e o energético.

O paradoxo já começa onde, se não houvesse toda essa “peãozada” - da qual obviamente eu faço parte - no mundo para produzir riqueza, esta última, naturalmente, não existiria. Devemos honrar que, se hoje temos uma proporção per capita de 20 milhões de cifras norteamericanas, é porque houve no mundo muito dispêndio coordenado de mão de obra com este objetivo. Riqueza, como eu já disse, não vem do dinheiro. Até porque o dinheiro por si só, é nada mais do que um pedaço de papel bonito.

Riqueza vem da produtividade, no sentido de se produzir itens que sejam úteis ou necessários ao homem, inclusive a você. Pense em tudo que está ao seu redor: comida, roupas, copos de vidro, ventiladores, energia elétrica, música, Internet, livros, cimento, serviços de limpeza, saúde e saneamento básico. É desses itens que estamos falando quando mencionamos riqueza. E os 20 milhões de dólares, neste sentido, são apenas uma maneira de mensurar riqueza por meio de uma unidade - monetária - compatível com o nosso senso de valor econômico, tanto quanto o sistema métrico parece adequado para se medir distâncias.

Se riqueza vem da produtividade, produtividade vem do trabalho que, como vivemos num mundo capitalista, é, infelizmente, conseqüência de desigualdade social. Desigualdade, tanto no sentido da motivação por um crescimento profissional às vezes ilusório (ex.: peão rala sonhando em virar chefe), quanto, principalmente, no sentido de se estar numa situação onde se precise arrecadar, com trabalho, dinheiro para sustentar as suas necessidades e anseios.

Pois bem, a filosofia é toda essa. Num sistema capitalista e livre, desigualdade é o que gera necessidade, que gera trabalho, que por sua vez gera riqueza. Só não se deve confundir desigualdade social com miséria. Desigualdade precisa ser diminuída, mas não extinta, porque senão o mundo entra numa crise irreparável. O que deve ser extinto é a miséria.

FRASE MAGNA

FRASES

"A felicidade sempre está onde a pomos. Sempre, estúpida e ridicularmente a felicidade estará onde a pomos, como uma lei imutável da natureza, como um binômio lógico inquestionável. E somos muito tolos, pois raramente a pomos onde estamos." (Almir Néri Júnior, Engenheiro, amigo de longas épocas).

sábado, setembro 09, 2006

CASABLANCA

CINE

Casablanca é um clássico do cinema de 1942, dirigido por Michael Curtiz, e cujos protagonistas - Humphrey Bogart e a belíssima Ingrid Bergman - já não existem mais em vida.

É um filme digno de se pendurar na parede para o resto da vida. Possui uma bela arte, direção, diálogos inteligentes, um roteiro muito bem construído. A fotografia e o musical do filme são dotados de uma grande perfeição.

Existe uma coisa neste filme que me faz lembrar os Beatles. O fato é: fazer o que eles fizeram, hoje chega a ser lugar comum. Mas fazer o que eles fizeram quando eles fizeram, aí está o grande mérito. Aliás, tanto Casablanca quanto Beatles, olhando por este ponto de vista, são os resposáveis com que estes estilos de diferentes artes se consolidassem tanto, ao ponto de hoje virar lugar comum.

O filme traz algo de muito precioso, que é a extinção do esteriótipo mocinho-bandido categorizado por nosso pensamento filosófico-cristão. Um pensamento hipócrita, até, eu diria. Não existe ninguém cem por cento mau, como também não existe ninguém cem por cento bom. De igual maneira, não existe ninguém que nunca erre, e nem ninguém que nunca acerte.

Frase: “Você é um sentimental

HOTEL RUANDA

CINE

Um filme de Terry George, lançado em 2004, com Don Cheadle (Hotel Rwanda, no título original). Trata-se da retratação de uma história vivida em meio à guerrilha da Ruanda, ocorrida em 1994, em decorrência ao assassinato do presidente do país, que levou à morte mais de um milhão de vidas humanas.

Em termos de retratar a África enquanto vítima de descaso, desprezo ou conspirações dos outros lados do mundo, eu diria que ele é um pouco mais realista e menos xaropado do que O Jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles.

O filme tem um grande teor político, no tocante às relações civis. Traz mensagens fortes. O diretor se empenha em retratar o sofrimento das pessoas que vivem naquele lugar, e que viveram a desgraça conseqüente de conflitos raciais e étnicos, num momento em que o mundo deu as costas para os problemas da Ruanda e da África como um todo.

De maneira bastante elucidativa, ele mostra que, associados a variações de descendência de uma mesma raça negra, estão sérios conflitos sociais – talvez até piores do que os conflitos entre brancos e negros em muitos países racistas. Uma cena que chama a atenção, envolve o comentário de um cinegrafista, após filmar massacres e enviar as imagens para a televisão:
- receio que as pessoas simplesmente digam: “oh, que horror...”, e continuem o seu jantar.

Hotel Ruanda mostra lições de coragem e perseverança, através do muito mais humano do que heróico, personagem Paul Rusesabagina, vivido por Don Cheadle. Mas o filme também discorre inteligência e estratégia deste gerente de hotel, que sempre usara de diplomacia, classe, acordos e criatividade para conseguir atingir aos seus nobres objetivos.

Um outro detalhe retratado pelo filme, e que me chamou a atenção, é o quão rara, cara e desejada é a cerveja neste país.
Frase: "Sempre há lugar."

quinta-feira, setembro 07, 2006

BOA NOITE E BOA SORTE

CINE

Um filme de George Clooney, com com David Strathairn, Robert Downey Jr., Frank Langella, Patricia Clarkson e Jeff Daniels (Good Night, and Good Luck, no título original, 2005). Trata-se de um drama, contextualizado na década de 50, envolvendo embates públicos, e ao vivo, entre um renomado repórter televisivo e um senador da república, onde aspectos morais e constitucionais estão sempre em questão.

Do ponto de vista artístico, o filme trás coisas geniais. Além do diretor ter tido a grande idéia de produzir o filme em Preto e Branco, o figurino, o cenário, os objetos, a cultura, os equipamentos e procedimentos de se fazer televisão, tudo isto traz um competente trabalho de retratação de uma época onde fumar, em qualquer lugar ou ocasião, era politicamente correto.

Do ponto de vista do roteiro, não há nada de sensacional. Até porque, ao que parece, a idéia era retratar um episódio ocorrido de fato. Nada de extraordinário se dá, ao passo em que tudo aquilo que foi mostrado é previsível. Inclusive a decadência do apreço moral no veículo de televisão, tanto por parte de quem produz quanto de quem assiste.

Por outro lado, do ponto de vista dos valores resgatados pelo filme, estes sim são surpreendentes. Uma única película conseguiu, em 91 minutos, trazer reflexões sobre: até onde uma conspiração política pode ser inabalável; a perseguição aos comunistas, e os ideais políticos que realmente contribuem para a liberdade e a cidadania; e qual é o real papel da televisão enquanto instrumento de comunicação: divertir e alienar, ou resgatar valores civis.

Frase: “A linha que separa a investigação da perseguição é tênue”

JOGOS MORTAIS I

CINE

Um filme macabro, mas muito bom. De 2004, foi escrito por James Wan e Leigh Wahnnell, e dirigido por James Wan (Saw, no título original). Conta o desenrolar de uma estória envolvendo os jogos de um psicopata, que gosta de pregar lições de vida das maneiras mais aterrorizantes possíveis: levando suas vítimas a cometerem suicídios, assassinatos ou mutilações. Daí, portanto, não recomendo a exibi-lo para crianças.

O elenco demonstra excelentes atuações. As interpretações, sobretudo as de pavor, são tão perfeitamente realistas que até se passariam como acontecimentos reais. A direção é muito boa, e o roteiro bastante inteligente.

Se existe alguma coisa para colocar defeito no filme, é o desfecho, que deixa bastante claro de que a estória não encerra no primeiro filme. Mas talvez isto não seja defeito, e Matrix I tenha me acostumado mal, em achar que todo bom filme, mesmo de trilogia, seja capaz de ser completo.

Frase: “Siga o seu coração”

terça-feira, setembro 05, 2006

COMUNISMO OU SOCIALISMO?

POLÍTICA Y SOCIOLOGÍA


Pregar Carl Marx é sublime, é nobre, é culto. Não é preciso nem saber bem a sutil diferença entre comunismo e socialismo – até porque, tirando os que não sabem, sobra os que acham que comunista come criancinha.

O mais importante, tenho visto, é que parecer culto ante a um mundo ignorante, soa como um oásis no deserto da generalizada e inconformada pobreza. Uma miragem, aliás. E de quebra, pregar socialismo, num mundo arduamente capitalista, pode ainda dar a falsária boa impressão de ser pobre por opção.

Há exatos dez anos atrás, na minha adolescência, quando eu ainda frequentava o PC do B e andava em movimento estudantil, comecei a ter as minhas primeiras decepções políticas. Não as decepções de saber que o congresso não presta, a direita é manipuladora, a burguesia fede, blá blá blá, nada disto. Uma decepção que, normalmente, vem num estágio posterior.

O problema começa no fato de que a cúpula partidária – digo, intelectual – que organizava aqueles pensamentos, não parece no final das contas acreditar neles. Os fins justificam os meios, como dizia Maquiavel. E o consolo de um pensamento socialista nas cabeças de uma facção de cultos por opção parece, sim, um bom meio. Um meio eleitoreiro.

Na realidade, a grande maioria dos comuno-socialistas (ou seria social-comunistas?), para desgosto deles mesmos, está mais para filhos de burgueses do que os chamados barõezinhos do PFL jovem. Ciro Sapucaia tem toda razão quando diz que a burguesia, por história e por conceito, tem muito mais de trabalhadora do que de nobre.
O curioso disto tudo é que esta mesma prole burguesa, que prega Marx – embora sequer tenha lido os dois primeiros capítulos de O Capital – usava de certa acidez para pronunciar, contra o eleitorado dos seus arqui-rivais, uma expressão que ironicamente também poderia ser aplicada a ela mesma: massa de manobra.

Neste aspecto, em contraposição ao comentário de Bárbara – pensamento direcionado apenas aos socialistas do shopping center – eu generalizo. O pior de tudo não é ser socialista e comer Big Mac, e tampouco não saber exatamente do que se está falando. O mais perigoso é participar de algo em que não se sabe, na prática, quais os seus reais propósitos.

Pois bem. Agora tratando de ideais políticos, o mundo não tem caminho de volta. A idéia de implantar qualquer um dos dois sistemas – comunismo ou socialismo – no Brasil, se deixasse de ser uma grande piada, passaria a ser um grande desastre. E culpar o capitalismo pela miséria do mundo é uma espécie de fanatismo ideológico. Desenvolvimento industrial não existe sem capitalismo, e o próprio desenvolvimento industrial contribuiu, e muito, para a diminuição da miséria. Como contestar a uma afirmação destas?

E aquele garoto que queria mudar o mundo – como dizia o controverso socialista da alta sociedade – sai da adolescência e começa a trabalhar. Passa agora a entender certos processos da economia, só que olhando por outros ângulos. Passa, também, a entender um pouco mais o mundo. Daí, por generalidade, descobre que comunismo é um sistema econômico utópico e retrógrado, ao mesmo tempo que o socialismo, na maioria das culturas, não daria nenhum suporte ao desenvolvimento.

Por fim, você conclui: Eu até posso ter alguma vocação para ser socialista. Mas o meu suado dinheiro, não.

segunda-feira, setembro 04, 2006

YES - 1969

ÁLBUM

imagem: www.yesworld.com


Este post inaugura uma seção do La Garantía Soy Yo sobre álbuns de bandas, compositores e intérpretes que tecem os fios da história musical do mundo. Devo antecipar que o grande objetivo em se criar uma seção específica para este propósito – ao invés de reaproveitar as seções MÚSICA ou BUENA MÚSICA – é deixar evidente o espírito de unidade que existe nos álbuns.

É frequente se encontrar num disco uma identidade própria, e que o faz se diferenciar até mesmo de outras produções de um mesmo grupo ou artista. Aliás, um gênero que é mestre neste tipo de intenção é o Rock Progressivo. Entretanto, a expressão de um disco como uma obra íntegra e indivisível é muitas vezes despercebida até mesmo por bons apreciadores de música. Minha intenção aqui é, portanto, resgatá-la.

Muitos álbuns de vários artistas são clássicos no aspecto de se terem sido construídos como verdadeiras óperas, a exemplo de The Dark Side Of The Moon e The Wall (Pink Floyd, 1973 e 1979), Close To The Edge (Yes, 1972), ou ainda A Ópera do Malandro (Chico Buarque, 1979). Outros, entretanto, não parecem ter sido inicialmente concebidos com esta intenção - a exemplo de Verde Anil Amarelo Cor-de-Rosa e Carvão (Marisa Monte, 1994) - mas depois de prontos ganharam unicidade e identidade tão marcantes, que mudar até mesmo a ordem das músicas poderia ser prejudicial.

Pois bem. A bola da vez é o Album Yes, do grupo Yes, lançado em 1969 como abertura da carreira da banda. Um disco fantástico, diga-se de início, que, pelo ano de lançamento, os então garotos não só pegaram a ponga do prelúdio do rock progressivo que se anunciava na Inglaterra, como também ajudaram a dar corpo o gênero.

Yes (o Álbum) é, desde Beyond And Before até Survival, um verdadeiro show de originalidade, técnica e virtuosismo. Ele trás muitas características do Jazz, já que este gênero era – e ainda é – a inspiração de muitos músicos apaixonados pela técnica e pelo improviso. Além disso, o uso constante de tríades e tétrades vocais, feitas por Jon Anderson, remete à época em que os Beatles reinavam com suas harmonias de voz.

Em relação à gravação, a qualidade do disco é exata para a época, sem tirar nem faltar. Não soa como futurista e nem como rudimentar. Neste aspecto, Yes Album reproduz com bastante emblemática a era de ouro do áudio analógico, onde o estéreo ainda era explorado como uma novidade. A bolacha também possui boa masterização e excelente mixagem. Tudo nos seus devidos lugares.

Em relação à música em si, o disco consegue não entediar, creio, nem mesmo os não adoradores da música progressiva. Não exagera nas passagens longas. Seus instrumentos também são melódica e harmonicamente bem dosados, de maneira que as composições possuem frases e bordões bem definidos - o que, diga-se de passagem, não é muito fácil de fazer no rock progressivo.

Uma curiosidade é que o Yes regravou uma versão bem arranjada de Every Little Thing (Paul McCartney, 1964) neste disco, que tão bem virou parte integrante do disco que não faz nenhum sentido retirá-la de lá.

domingo, setembro 03, 2006

FRASE IMPORTANTE

FRASES

"Ponha propósito nos seus atos." (Antoniel Barros, pensador contemporâneo)

sexta-feira, setembro 01, 2006

CARRO MOVIDO A ÁGUA?

FÍSICA

Há muito tempo se ouve uma teoria sobre um magnífico carro, proposto por um inventor bastante solidário e ecológico, e que bastaria, ao invés de gasolina, de um pouco de óxido de hidrogênio – substância bastante abundante tanto na superfície do nosso planeta quanto nos nossos reservatórios de banho – para fazer o seu motor funcionar. Esta utópica solução faria com que bastasse uma mera torneirinha por perto para garantir uma boa autonomia de locomoção.
Conta-se ainda que este sério candidato a Prêmio Nobel da física (para não dizer da literatura) desapareceu misteriosamente pouco após ter publicado seu invento. Este homem – conta-se – teria sido provavelmente assassinado pelos gigantes da indústria petróleo, uma vez que se tratava de uma séria ameaça aos imensos lucros de empresas como a Petrobrás. Junto com ele, desaparecera também o resultado de sua pesquisa.
Pois bem que, ao que se conclui, esta linda estória não passa de mais uma teoria conspiratória – isto é, aquele tipo de teoria normalmente pseudo-científica, e que não basta ser polêmica; tem também que ser acreditada. Daí que, há alguns anos atrás, eu como bom peregrino da ciência fui investigar o assunto “carro a água”, e me deparei com a óbvia conclusão de que isto não passa de falácia.
Ao que parece, a expressão movido a água teria sido cunhada a partir de um equívoco de interpretação sobre o motor a hidrogênio H2 - um gás combustível e bastante reativo – e que tanto já é operado quanto existem pesquisas públicas sobre ele ao redor do planeta. O combustível não é a água, e é aí onde mora o engano. A água é meramente o subproduto da combustão do hidrogênio, tanto quanto o gás carbônico o é a partir da queima dos hidrocarbonetos.
Motores a hidrogênio costumam ser usados por naves espaciais e aeronaves que voam a grandes altitudes, ao que parece, por questões de embarcabilidade e ambientais, e não por viabilidade energética. O problema é que o gás hidrogênio não é facilmente encontrado na natureza, e para produzí-lo sob demanda, seria necessário algum processo tal como eletrólise, que além de – ironicamente – água, envolve bastante energia. Ou seja: para produzir a “energia”, eu vou precisar consumir energia (Lavousier). Onde está mesmo a vantagem?
Agora essa estória de abastecer o motor com água, esqueça. Na água, em sua fórmula natural H2O, é desconhecido qualquer poder de reação química capaz de produzir energia suficiente para mover motores com dezenas ou centenas de cavalos-vapor, tal como requer um carro popular mínimo. Acreditar que um ínfimo litro de gasolina, com seus aproximados 34 Mega Joules, possa ser substituído por alguma quantidade viável de água em temperatura ambiente, é bastante prazeroso. Mas passa muito longe do bom senso. Aliás, são bastante incomuns as fontes de energia – além da nuclear, dos derivados do petróleo, do álcool e do biodiesel – que possuem densidade energética similar ou superior à da gasolina.
Se a informação do motor movido a água procedesse, e este ícone da fonte da vida fosse um bom combustível líquido, eu me espantaria com o quanto que as maquiavélicas e conspiratórias empresas de petróleo – como são atribuídas – conseguiriam ser, contraditoriamente, ignorantes e bitoladas. Como estas empresas poderiam optar por não parar de investir tantos bilhões de dólares em pesquisa e otimização de complexos processos de extração e refino de petróleo?
Elas economizariam muito mais dinheiro abrindo uma torneira da EMBASA, ou extraindo água de um rio. Daí, basta colocar um corante e batizar de combustível flex-power-plus, com letrinhas minúsculas informando duzentos mil veículos quiescentes, que as vendas sairiam – com ironia e tudo – que nem água. Afinal de contas, o marketing da fórmula oculta está bem em vigor.