ACABOU A MANTEIGA...
CRÓNICAS
- Alô? - atendo o telefone enquanto o sinal não fica verde.
- Oi meu lindo!
- Oi minha gatinha!!! Como você tá?
- Tudo ótimo e você?
- Tudo bom também.
- Como foi de viagem?
- Foi tranquilo, apesar de cansativo... Uma certa correria, viagem a trabalho já sabe né! Uma loucura, mas... Eu sobrevivi. E você que tem feito?
- Nada demais não... O de sempre.
- Tô com saudade do seu café, sabia?
- Ah é? Também nunca mais você me convidou pra fazer um café pra você!
- Opaaa!! Então Sinta-se convidada! Hoje!!! Topa?
- Hoje? Tá bom! Combinado. Vou resolver umas coisas antes e depois passo lá pra gente tomar um café.
E chego no condomínio, estaciono o carro e coloco a mochila nas costas. Vou direto para a padaria. Afinal de contas, na minha cabeça o café já conta com pão, queijo e mortadela defumada. Compro os itens restantes e subo pra esperar minha companhia, enquanto termino algumas coisas de trabalho.
E eis que ela chega, às 21:30h. Sorridente, irradiante... Cheia de compras. E a aperto com aquele abraço de esmagar ossos:
- E aí minha gatinha! Tava fazendo compras foi?
- Foi! Comprei isso, aquilo, vestido, caixinha de fósforo, ...
E enquanto o assunto vai ficando em dia, ela prepara a água do café no fogão, enquanto eu preparo a mesa: pão, açúcar, leite em pó, queijo, mortadela defumada, manteiga...
- Opa! Manteiga? Cadê a manteiga?
- Hum?
- Acabou a manteiga!!!
- Sério?
- Não acredito nisso!!! Eu fui na padaria hoje e não comprei manteiga!!
- E não dá pra comprar agora não?
- Não! A padaria fecha às 21h!
- Xiiii...
- Isso não está acontecendo!! Isto não pode ser real!!! Tudo, menos pão sem manteiga!!!
- E agora? Não tem nenhum vizinho assim que...
- Deixa eu pensar... Já sei, vou ligar pra uma vizinha minha!
Saco o celular do bolso e, no impulso, ligo para minha vizinha. Enquanto chama, a imaginação flui pra preparar o discurso:
"- Oi minha vizinha, sabe o que é? É que eu tô fazendo um café aqui em casa com uma amiga minha, e de repente, acabou a manteiga. Será que você tem alguma aí pra me emprestar?"
Na sequência, imagino a cena seguinte, e interrompo abruptamente a ligação. Imaginei ela me entregando um tubo de KY. Não vou passar KY dentro do pão!
- Melhor pegar o carro e ir comprar a manteiga na delicatessen.