POLÍTICA Y CIUDADANÍA
Já recebi diversas vezes uma corrente de e-mail que circula na Internet, dizendo para votar nulo. O fundador da corrente acredita que votar nulo é a "a solução para a corrupção no nosso país".
No texto, exemplifica-se uma eleição qualquer com candidatos como Roberto Jefferson, Paulo Maluf, José Dirceu, Marcos Valério, etc. Argumenta-se que se a maioria do eleitorado (i.é., cinquenta por cento mais um) votar em nulo, o Tribunal Eleitoral é obrigado a fazer uma nova eleição, com novos candidatos. Sugere, por fim, que se o e-mail for repassado, este estágio mirabolante poderá vir a ser alcançado.
Pois vamos à realidade:
Qualquer estatística mostra que uma maioria devastadora da população da nossa pátria amada é analfabeta digital, i. é., não possui aptidão ou requisitos necessários para usar um computador. Quem dirá a Internet. Quanto mais o correio eletrônico. Sendo assim, pretender chegar a um percentual de 50% + 1 eleitores, usando o correio eletrônico, exala uma mistura de imaturidade com surrealismo.
Na verdade, façamos uma análise um pouco mais perseverante sobre os dados e fatos. Observa-se que, por motivos um pouco maiores do que mera coincidência, a pequena fatia do bolo do eleitorado que possui acesso a correio eletrônico está bastante próxima da parcela da população que possui consciência política. Este lado do histograma, obviamente, constitui a modalidade de voto menos danosa ao poder público. É quem menos precisa de orientação política, porque quem de fato mais precisa mora na outra fatia do bolo.
Esta consciência política vem sendo esmagada desde o início da ditadura militar, e foi extirpada dos currículos de nossas escolas e universidades. A mesma escassa consciência política deveria ser mais respeitada, porque ela vêm resistindo, no viés deste nosso progresso movido a pão e circo, nas idéias e nos atos de uma minoria ainda representativa. E esta minoria deveria estar usando seus instrumentos para orientar a visão de mundo dos mais puros de coração e de alma, e não para ficar tentando desorientar.
Tentar persuadir a parcela politicamente consciente da população a votar nulo, note bem, é induzí-los a ter a sua própria representatividade eleitoral abnegada perante os analfabetos digitais. Sim, porque estes últimos continuarão votando no candidato da mídia, com ou sem corrente de email. Por fim, seria estimular a abstenção do exercício da democracia.
Julgar como estratégica um ação de tamanha absurdidez, é no mínimo esperar que ela possua intenções perniciosas. Julgá-la como de bom senso, ao invés, é dotar o seu autor de uma santíssima inocência.