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sexta-feira, novembro 03, 2006

AUTOMATISMO

ECONOMÍA Y SOCIOLOGÍA
Nos dias de hoje, um fenômeno põe assustadoramente em cheque o mercado de trabalho, e em evidência o mercado produtivo. Um fenômeno que vem mudando radicalmente os nossos conceitos sobre a relação entre trabalho e produtividade. E esta revolução possui um nome: automação.

O controle da produção ser tomado por máquinas é algo que parece não se encaixar muito bem nas teorias de Karl Marx. Aliás, semana passada eu quase apanhei porque o considerei antiquado - mas é aí onde eu tento encaixar os termos. Meu argumento está um passo antes do sociológico. Vejamos o seguinte:

Por que o trabalho se faz necessário? Olhando pelo ponto de vista econômico, desde os tempos remotos, o trabalho tem existido como (única) maneira de transformar um determinado item com pouco valor de uso ou de troca, num outro item de maior valor. Isto é, transformar um insumo num produto.
Se você pensar no trabalhador de uma fábrica de calçados, por exemplo. Por meio de cortes, costuras e colas, o trabalhador transforma o couro bruto, de menor valor, em um sapato pronto para ser usado. Antes de compor o sapato, o couro, cola, pregos e fios valiam dez reais. Após unidos e organizados, e uma vez concluído o sapato, ele passa a valer quarenta. Isto quer dizer que o trabalho foi quem foi capaz de transformar um item de R$10 num outro de R$40.

Pois bem que, no modelo capitalista formulado por Marx, o capital parece ser essencialmente dependente do trabalho. Marx condenava o capitalismo por causa da mais-valia, por julgar injusto que o trabalho produtivo – até então o único responsável pela transformação econômica do bem produzido, segundo seu o ponto de vista – tenha remuneração inferior, ou tão inferior, ao valor de venda do produto.

Pois bem que agora eu justifico o meu adjetivo ao Messias dos Socialistas. No meu entender, a falha de Marx é que ele não viveu o bastante para presenciar um sistema onde se produza riqueza sem depender da atividade humana. Hoje, em qualquer empresa, ainda depende-se de algum trabalho, amanhã de menos ainda, e no futuro, talvez, de nenhum.
A necessidade de mão-de-obra humana na produção é algo cada vez menos evidente. Se observarmos as empresas de hoje, comparando-as com as de antigamente, o que veremos são muitas máquinas, muitos computadores, e pouca gente trabalhando. Compare uma esteira pipeline de uma fábrica de automóveis do século XXI com outra das de cinqüenta anos atrás. Antes, eram milhares de operários. Hoje, eles foram substituídos por centenas de robôs. E isto é uma realidade que não dá mais pra voltar atrás. Seria como remar contra a correnteza.

Pois bem que um aspecto que mantinha até pouco tempo atrás o trabalho humano como insubstituível é a inteligência. Isto é, qualquer trabalho, por mais braçal que este fosse, se ele é – ou era - bem realizado por um ser humano, é porque a inteligência humana, com o seu conjunto de ações seqüenciais e organizadas e as suas decisões corretas, faz com que a produção seja (ou fosse) mais eficiente, mais segura e mais eficaz do que se o homem não estivesse presente.

Entretanto, um elemento chamado computador – capaz de reunir algumas destas características antes puramente humanas – quando aliado a um conjunto de máquinas eletromecânicas, permitiu substituir a intervenção humana na solução de determinadas classes de problema. Algumas ações, antes vistas como “inteligentes”, passam a poder serem executadas por esta combinação tecnológica, que ganha o singelo nome de Automação.

Imagine agora uma empresa do futuro: com um dono ou uma sociedade anônima, pouquíssimos funcionários ou nenhum em cargos gerenciais, e toda a parte operacional sendo executada por máquinas, cada vez mais inteligentes. Máquinas produzindo coisas, máquinas transportando coisas, máquinas tomando decisões a partir de equações de otimização. Máquinas até mesmo consertando outras máquinas. Surreal? Parece Exterminador do Futuro ou Matrix, não?

Pois então. Este fenômeno anuncia um novo modo de produção que vem criando forma e densidade a partir das últimas décadas do século XX, e que algum estudioso, possivel seja, chamará de Automatismo. E aí, neste caso, o julgamento sobre a relação entre capital e trabalho perde o sentido. Como falar de mais-valia sem existir exploração do trabalho?
Sob o ponto de vista produtivo, não há como negar que o inevitável fenômeno da automação faz surgir muito mais ganhos do que perdas. Máquinas em geral falham menos do que seres humanos, não cobram salário, não faltam trabalho, não reclamam, e de quebra ainda costumam ter uma produtividade maior do que a dos trabalhadores.
Porém, sob o aspecto social, ela causa um problema devastador: automação leva muita gente ao desemprego e, às vezes, ao profundo abandono. E agora? Como lidar com isso? Tentar estimular as empresas a abandonarem suas máquinas e recontratarem pessoas é uma mera perda de tempo.
Entretanto, pelo menos neste momento em que as máquinas não dominaram o mundo, as classes de trabalho que começam a serem substituídas por elas são aquelas mais repetitivas e que requeiram uma menor quantidade de decisões humanas (que tendem a ser computacionalmente mais complexas) na sua realização. Logo, se a população que está sendo excluída deste mercado de trabalho não tiver condições de se prepar para ocupar outras funções de maior perspicácia humana, o governo será o principal culpado.

Agora tem um outro aspecto controverso. Observando a economia pelo âmbito das mercadorias, surgem, em decorrência disto, hipóteses interessantes. Se considerarmos que o principal consumidor da maioria das mercadorias produzidas – inclusive aquelas produzidas com automação – é o trabalhador, vamos nos deparar com um monte de desempregados que não terão poder de compra destes produtos. Em muitos tipos deles, por falta de demanda, seus preços poderão cair.

Por outro lado, o notável aumento da capacidade produtiva proporcionado pela automação faz com que os custos de produção caiam também. Daí, por conseqüência, baixar os preços, no pior dos casos, já não corta tanto a carne de quem produz.

E quanto a mim? Que final eu espero para esta novela?

Ora, eu sou um sonhador. Eu sonho com um futuro com automação total, repleto de máquinas, produzindo exatamente (ou um pouco mais) o que todo mundo precisa consumir para sobreviver, e distribuindo-os de graça. Ou pelo menos a preços muito menores do que os de hoje. Não sou comunista, mas sempre me pego a pensar em benefícios para a sociedade como um todo.
E o que pensar dos trabalhadores que desde já vêm sendo substituídos por máquinas? Que sejam educados e treinados para exercerem funções mais humanas e menos mecânicas, que neste caso estarão dando uma grande contribuição para a sociedade, como é o exemplo da pesquisa. Para nosso consolo, ainda existem determinadas classes de atividade que segundo a Inteligência Artificial, os computadores não são capazes de realizar.

10 Puedes hablar:

Blogger Ane Brasil said...

Sinto muito em estragar seu sonho... estamos mais pra um desfecho de pesadelo.
Jamais, bajo el sitema capitalista haverá distribuição gratuíta do que quer que seja.
A questão da mais valia- a crítca de Marx reside no fato de que, na maior parte das vezes a produção da mais valia requer que a remuneração daquele que a produz, seja tão baixa a ponto de, quando muito, garantir sua sobrevivência.
Isso sem falar nos aspectos socio-psiquicos já apontados por Marx.
Mas não era isso que eu queria dizer:
acredito que, pelo rumo que as coisas vêm tomando, restarão tão poucas pessoas no planeta - se é que vai restar planeta - que não haverá uma massa de desempregados.
sorte e saúde pra todos!

sábado, novembro 04, 2006 2:28:00 PM  
Blogger Unknown said...

"Jamais, bajo el sitema capitalista haverá distribuição gratuíta do que quer que seja."

Calma, não é bem assim!

Na verdade é possível existir distribuição gratuita, desde que isto, mesmo que indiretamente, reflita em um outro ganho.
E o exemplo disto são os veículos que transportam publicidade, como o Rádio e a TV.

Sem contar que hoje existe uma "religião" chamada software-livre. Os caras não cobram absolutamente nada.

domingo, novembro 05, 2006 1:23:00 PM  
Blogger Unknown said...

"(...)acredito que, pelo rumo que as coisas vêm tomando, restarão tão poucas pessoas no planeta (...)"

Como assim? Em que sentido vc diz?

domingo, novembro 05, 2006 1:28:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Eu sonho com o dia que as máquinas façam todo o trabalho operacional e as pessoas façam o intelectual, pessoas sejam consideradas pelo que pensam e sentem.

domingo, novembro 05, 2006 2:49:00 PM  
Blogger Unknown said...

é bem por aí...

domingo, novembro 05, 2006 4:27:00 PM  
Blogger Ane Brasil said...

Quanto as poucas pessoas que restarão no planeta: guerras+fome+catástrofes ambientais... veja bem, nosso palneta vem passando por mudanças significativas nos últimos anos... (a guerra e a fome são sistemáticas na nossa história, entretanto, a tecnologia da morte pode fazer com que o processo de extermínio de alguns povos seja mais rápido)

quanto ao software livre: falaste bem, uma religião... coisa de alguns (vá lá, milhões) de idealistas.
sorte e saúde pra todos!

domingo, novembro 05, 2006 7:39:00 PM  
Blogger Unknown said...

Mas os caras do software livre, muitas vezes, lucram muito com aquilo, embora distribuam-no de graça.

Desde os menores programadores, enriquecendo seu currículo e suas experiências, que se refletirão em melhores empregos, até grandes organizações, como a MySQL e a SUN, distribuindo software livre e lucrando muito em consequência disso... :)

quarta-feira, novembro 08, 2006 1:58:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Antes de chegarmos a este mundo aonde as máquinas trabalharão e os homens pensarão (como na Grécia antiga, só que as máquinas substituem os escravos), e a economia, a política, a sociedade etc. serão bem diferentes do que é hoje (a idéia de gratuidade é válida, o lucro não fará sentido, sequer dinheiro fará sentido)... enfim, antes de chegarmos a este mundo maravilhoso (inclusive indo além do nosso planeta), antes disso tudo, bilhões serão mortos, somente os poucos que restarem viverão nesse mundo novo. Teremos muitas guerras, muita miséria, muitas catátrofes no próximo século e meio, e só depois, o 1 ou 2 bilhões que sobreviverem, viverão neste mundo...

ps.: ótimos textos os seus!

Abraço.

domingo, dezembro 24, 2006 2:28:00 PM  
Blogger Unknown said...

Espero que sua profecia não se cumpra... :)

Abração e obrigado, Rodrigo!

segunda-feira, dezembro 25, 2006 10:48:00 AM  
Blogger Janilton said...

Haverá ordem sim ! mas somente após o CAOS.

quarta-feira, julho 04, 2007 12:51:00 AM  

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