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domingo, abril 02, 2006

O VALOR DO DINHEIRO

ECONOMÍA

Com toda a humildade que um indivíduo da minha idade e formação deve ter, economia não é uma de minhas habilidades. Naturalmente não. Mas de uma maneira geral, entender economia já não é tão sacrificante quanto foi em outros tempos. Mas devo confessar que eu cometia alguns erros no passado – erros estes que, para minha surpresa, são incrivelmente comuns.

O primeiro pecado que a gente comete é de dar valor ao dinheiro como se ele fosse o grande objetivo econômico (ou seja, o fim, e não o meio). Aliás, a ambição humana leva a isto. Acredito que a grande maioria das pessoas sente ao menos uma coceirinha quando vê um maço felpudo de onças à sua frente.

Acontece que o dinheiro por si só não é absolutamente nada. O seu valor está pura e simplesmente naquilo que ele pode comprar. O dinheiro é apenas um instrumento criado pelas sociedades, através dos governos, visando facilitar o processo de troca. Troca de bens, de serviços, enfim: troca de valores de uma maneira geral. A economia, logo assim, está bastante sustentada no câmbio.

Se remetermo-nos ao passado, veremos que antigamente o homem trocava as coisas. O cara que sabia fazer cobertor precisava consumir sal. O cara que extraía sal das minas sentia frio de noite. Assim, eles trocavam um cobertor por dois quilos de sal. Os dois saíam ganhando. E quanto ao dinheiro? Bem, este só veio depois. Dentre outros motivos, ele veio para facilitar que o cara do cobertor pudesse calçar sapatos mesmo que o sapateiro não sinta frio.

Assim, devemos ter em mente que o dinheiro nada mais é do que um mero instrumento de câmbio. É fundamental que levemos em consideração que o que traz valor econômico numa sociedade (e conseqüentemente, desenvolvimento) é a produção de riqueza. E quando falamos de riqueza, não estamos falando de dinheiro. Estamos falando de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar, ou seja, tudo o que tem algum valor - de uso ou de troca - para nós.

Ora convenhamos que, dentro de um universo fechado de mercado, todo o dinheiro que circula ali dentro jamais possuirá valor representativo que seja superior a toda riqueza que ali há: todas as TV’s, geladeiras, livros, feijão, arroz, soja, serviço de limpeza, computadores, água tratada, imóveis, carros populares, artigos de luxo, obras de arte e tudo o que agrega algum valor à sociedade. É óbvio! Como pode o dinheiro valer mais do que tudo o que ele pode comprar?

Assim, desconsiderando o fator de moedas estrangeiras e câmbios internacionais, de nada adianta um determinado país ter produzido muito dinheiro, se ele não produz riqueza. Não produz alimentos, não produz eletrodomésticos, não constrói casas, não constrói escolas, não produz conhecimento. Não produz tecnologia. É na produção de riquezas - e não de dinheiro - que está o verdadeiro crescimento econômico. E um país onde as pessoas e empresas não têm capacitação técnica ou interesse em produzir, jamais irá crescer.

Ora convenhamos que eu, como um infante curioso dos processos do mundo, sempre penava a entender por que a casa da moeda – a “fábrica” de dinheiro – não produzia logo todo o dinheiro que todo mundo precisa para comer, beber, se curar, gastar, e satisfazer todas as suas necessidades e desejos, já que o custo de se produzir dinheiro certamente é menor do que o seu próprio valor!

Mais daí, é tolerável que este mesmo infante dos finais da década de oitenta - com este pensamento solidário, porém rudimentar - não fosse capaz portanto de entender o fenômeno da inflação. Se todo mundo tem dinheiro para gastar, os produtores de artigos de interesse (entenda-se como tudo o que se compra) muito mais provavelmente irão aumentar os seus preços, e não a sua produção.
E depois ainda tem gente que apedreja a nossa política econômica de contenção de demanda...

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